Quando as luzes se apagam e tudo está quieto, é quando todos esses pensamentos vem à tona, na cama, no quarto escuro.. 'Será que eu vou conseguir suportar? Será que essa é mesmo a única saída? Porquê?'. A garota que estava deitada, se levanta, vai até o banheiro. Se olha no espelho, não vê o que quer. Então, pensando que amanhã será diferente, ela vai até a cozinha e abre a geladeira. Vê todas aquelas coisas de comer, e que fome ela sente agora. Mais uma olhada e encontra uma garrafa d'agua, pega-a sem pensar e bate a porta da geladeira. Devolta ao quarto, ela bebe até não sobrar nenhuma gota. E depois se vira pro lado, as lágrimas não são domáveis, elas vem quando querem, quando precisam sair. Ela está fraca, cansada, vazia. Não há nada dentro dela. Dormir seria ótimo, mas seu estômago está gritando demais, isso a incomoda. E assim, o tempo vai passando, ela vira pra lá e pra cá, os pássaros lá fora começam a cantar um novo dia, o sol daqui a pouco vai nascer. Ela levanta, olha pela janela e faz suas contas fitando o céu, como se estivesse pedindo que alguém lá em cima a segurasse, a protegesse. Já é hora de levantar, suas pernas não sustentam mais seu corpo, mesmo assim ela se mantêm de pé, firme. Suas vistas não mostram com clareza o que está ao redor, está tudo embaçado. O banho frio é só pra acordar, mesmo que ela não tenha dormido um minuto sequer. Decidida a tirar todo aquele peso dos ombros, mais uma vez ela exagera na academia, faz o dobro do que lhe é instruído, sempre mais, mais e mais. É a primeira a chegar e a última a sair no seu turno. Volta pra casa cansada, os músculos estão doloridos, sua alma também. Se sente sozinha, inútil, queria carinho... Amigos? Sim ela tinha alguns, poucos e bons. Não tem mais, os abandonou. Sacrifícios de sua escolha, o caminho é longo e quanto menos obstáculos tiver, será melhor. Sua mãe chega do serviço, verifica a comida na geladeira intocada mais uma vez. Então começa o discurso, as cobranças, seguidas de mentiras, desculpas esfarrapadas que não enganam a ninguém, somente a ela mesma, a pequena garota com fome. Ir na faculdade não é mais tão bacana, parece que todos lá a olham diferente. Alguns mais ousados comentam sobre seu corpo, dizem que ela está magra demais, outros que está linda e tem aqueles que perguntam o que ela faz pra ficar sempre em forma. Bobagem! Eles não sabem de nada e no fundo, ela não deseja isso pra ninguém. Ela está nessa vida há muito tempo, sempre querendo menos, cada vez menos. Nunca teve o controle que prometera no início, nunca será o suficiente pra pequena garota com fome. Ela descobriu da pior maneira que todos vão amá-la sim, contando que ela seja perfeita! Tudo que ela quer agora é ir pra casa, apagar as luzes e deitar. Pensar que venceu mais um dia, e amanhã terá que lutar de novo, mentir de novo, chorar de novo. Essa angústia não tem mais fim, e ela sente isso, infelizmente. Morrer aos poucos foi o único jeito que ela encontrou para viver. Ela sabe que um dia a mais, um dia a menos são fatais... Sonhos tão pequenos.. Que nunca tem fim!
Perdão Deus!
Desculpa Mãe...
Cig.'